Votação foi interrompida por pedido de vista; reunião tem quase 40 inscritos para falar. Presidente da Câmara quer veredito final ainda nesta quarta; plenário está dividido. O deputado Chiquinho Brazão (sem partido-RJ) em imagem de setembro de 2023
Zeca Ribeiro/Câmara dos Deputados
A Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara dos Deputados abriu nesta quarta-feira (9) a sessão para analisar a prisão do deputado Chiquinho Brazão (Sem partido-RJ), suspeito de ser um dos mandantes do assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL-RJ).
A Constituição e o regimento da Câmara estabelecem que a prisão de deputados seja analisada pela CCJ e pelo plenário da Casa.
Na primeira reunião dedicada ao assunto, os deputados Gilson Marques (Novo-SC), Fausto Pinato (PP-SP) e Roberto Duarte (Republicanos-AC) pediram mais tempo para analisar o caso.
Entenda como será a reunião:
A reunião tem 38 parlamentares inscritos para discursar. O número pode aumentar até o início da discussão.
Os membros da comissão podem falar por 15 minutos e os não membros, por 10 minutos. Em reunião nesta segunda-feira (8), os parlamentares tentaram, sem sucesso, chegar a um acordo para reduzir o tempo dos discursos. A reunião deve se alongar.
Uma possibilidade é os deputados analisarem um requerimento de encerramento de discussão após dez deputados falarem, mas ainda não há acordo sobre a aprovação.
Os parlamentares devem votar para manter a prisão do deputado Chiquinho Brazão na CCJ. No entanto, deputados de centro-direita devem usar suas manifestações para criticar a prisão que, segundo eles, não respeitou os procedimentos previstos na Constituição.
Plenário dividido
Para aprovar o relatório na comissão é preciso maioria simples - a maioria dos presentes na reunião. Depois de votado na CCJ, o parecer vai ao plenário, onde a situação será outra.
Deputados ouvidos pelo g1 disseram que, se há duas semanas havia segurança pela manutenção da prisão com ampla maioria, agora a votação está dividida. O colunista do g1 Gerson Camarotti apurou que há um crescente movimento pela derrubada da prisão.
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Sem falar em placar, parlamentares disseram que haverá muita discussão sobre o caso. Um dos deputados disse que a votação "será uma loucura".
O caso
Brazão foi preso em 24 de março, no Rio de Janeiro, ao lado do irmão Domingos Brazão, na Operação Murder, Inc. da Polícia Federal.
Segundo a Polícia Federal, a morte de Marielle foi idealizada pelos irmãos e planejada pelo ex-chefe da Polícia Civil do Rio de Janeiro Rivaldo Barbosa. O motivo seria a disputa por regularização de áreas nas mãos de milícias. (relembre abaixo a operação)
Brazão é deputado federal desde 2019, quando foi eleito pelo partido Avante. Em 2023, foi reeleito pelo União Brasil.
Logo após ser eleito, assumiu o cargo de Secretário Especial de Ação Comunitária do município do Rio de Janeiro, onde ficou até fevereiro deste ano. Após ser preso, ele foi expulso do União Brasil.
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O que diz a defesa
O advogado de Brazão, Cleber Lopes de Oliveira, contestou a prisão do deputado. Ele argumentou que não ficou comprovado o flagrante e que, por isso, o deputado não poderia estar preso, já que – segundo a Constituição – deputados só podem ser presos em "flagrante de crime inafiançável".
"A prisão preventiva é vedada pela Constituição Federal. Temos uma prisão preventiva contra a expressa disposição do texto Constitucional", afirmou.
O defensor também questionou a competência do STF para determinar prisão e afirmou que ela é é ilegal, devendo ser imediatamente relaxada.
"O crime foi praticado em 2018, e o deputado assume em 2019. Os supostos fatos reveladores de uma obstrução de justiça não têm nenhuma relação com o mandato, os fatos são anteriores ao mandato, de modo que há um vazio do ponto de vista da competência do STF", disse o advogado.
O relatório
No parecer de oito páginas, o relator, deputado Darci de Matos (PSD-SC), afirmou que os indícios de crime são "eloquentes".
"A nosso ver, resta claramente configurado o estado de flagrância do crime apontado, seja por sua natureza de permanência, seja pelo fato de que os atos de obstrução continuavam a ser praticados ao longo do tempo", apontou Matos no relatório.
Darci de Matos afirmou ainda que considerou "correta e necessaria" a decisa?o de prisão preventiva proferida pelo ministro Alexandre de Moraes.
"Ante o quadro acima exposto, considerando presentes os requisitos constitucionais do flagrante e da inafiançabilidade, além de estar adequadamente fundamentada, meu voto é pela preservação da eficácia da decisão proferida pelo ministro Alexandre de Moraes, referendada, à unanimidade, pela 1ª Turma do Supremo Tribunal Federal", diz o relatório de Darci de Matos.